domingo, 8 de maio de 2011

Quero tudo de novo.

A cada dia
um novo sol;
novos sorrisos e
olhares
amigos novos e
lugares.

Só meus problemas
continuam os mesmos.


terça-feira, 19 de abril de 2011

Dose única de cachaça (ou Nem bêbada demais, nem de menos)

As vezes dá vontade de apressar as coisas, as pessoas, os momentos. É que a gente quer que a parte boa chegue logo.

Eu sempre defendi que a vida não se apressa, que é processo e prazerosa - mesmo na dor - que o bom é disfrutar o caminho.

Mas as coisas mudam quando sua passagem de volta tem dia e hora marcada.

Quero tudo agora.

domingo, 22 de agosto de 2010

Amanhã

Época de novos tempos,
de novos ventos.

A brisa que vem e acalma,
agora,
tem que vir de dentro.

O sol que aquece e brilha,
nasce
em pensamento, veias, coração,
no centro.

Por que às vezes
o de fora é pouco,
já não serve,
não é-terno.

Às vezes,
é preciso
voltar para si os olhos
e ver a chave
entre o interno e o externo.

sábado, 21 de agosto de 2010

Nunca, Bill.





Remexendo gavetas virtuais eu o encontrei novamente, numa mensagem dele, para ele mesmo:

"A LUTA É ETERNA, NUNCA FRAQUEJAR."

Peguei o recado ecoando sozinho, e pensei que, naquele instante, ele poderia ser para mim.


terça-feira, 29 de junho de 2010

Otimismo

Por trás dos cabelos recém-cortados,
do cinema francês,
das cores de Almodovar e
do sertão, grande sertão
de Guimarães Rosa,
havia um romantismo incansável.

Já não era preciso mais barba,
camisa listrada ou labrador.
Só do Chico
não abria mão.

Ela queria
um amor de verdade.
Ou outro;
ser o primeiro é sempre
questão de ponto de vista.


segunda-feira, 12 de abril de 2010

Análise de Risco

Antes de partir, ainda ouvi um lamento:
- Me arrisquei demais.

Ele pensava que, se havia um risco, era que eu descobrisse o que fizera. Em sua ingenuidade, não sabia que o maior risco, para nós dois, era que ele mesmo descobrisse que não dava mais.

Se arriscou demais e descobriu. Só não percebeu que a minha descoberta foi apenas a comunicação da sua.

Atemporal

Voltando de Búzios, com um deslumbre enorme e ainda recente, deixei escapar:
- Pai, e a Brigitte Bardot?
Sorriso no canto da boca, brilho nos olhos e a frase que disse tudo:
- Uma vez, ela respondeu: "As três melhores coisas do mundo? Um whisky antes e um cigarro depois".
Ainda completou: "Não se fazem mais estrelas como antigamente". Achei tão genial que me foi descrição suficiente.
Ganhou mais uma fã, Brigitte.

segunda-feira, 29 de março de 2010

NON-GRATA

Quando escrever é

revisitar,

Nem sempre somos

bem-vindos

em nossa própria

memória.

PRESENTE

Quando abri o queijo pela manhã, lembrei-me imediatamente dele. Eu sabia que era um bom queijo, tinha a cor e consistência adequados. Sabia disso porque já fizera um igualzinho, muitos anos antes.

Ferver o leite, adicionar coagulante e sal. Mexer, mexer, mexer. Eu podia me lembrar de cada passo, dos cheiros, da sensação. Quando vivenciamos com o coração, fica difícil esquecer. O Bill gostava, antes de tudo, de compartilhar experiências. Não de explicá-las, não de descrevê-las; fazia questão de fazer junto, de estar presente.

Fazia tanta questão que se fez assim: da onde estou, posso ouvir sua voz, sua risada sincera, sempre sincera. Sinto o toque da sua mão, áspera pela psoríase e ouço claramente ele me chamando:

– Tekebá!

Me chamava assim desde que nasci, e eu nunca soube porquê. Nunca precisei, na verdade: a razão era amor, disso eu sabia.

Se a morte for mesmo apenas uma curva na estrada, lá está ele, atrás de uma das tantas curvas da Serra da Mantiqueira. Não o vejo, mas sei que está ali (ou seria aqui ?), em algum lugar da estrada, tomando um bom vinho português e, quem sabe, ensinando mais alguém a fazer um bom queijo Minas.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Desproporção

Eu sempre tive medo
de o amar desproporcionalmente.
Era o meu único medo.

Não teve um único momento que não o tivesse olhado com um frio na barriga: amava tanto que toda despedida era com ansiedade, que cada sorriso era uma presente que eu agradecia mentalmente.

Até que perdi. Me perdi e o perdi.
Fui perdendo aos poucos, duvidando, achando que a distância era normal. Mas a desculpa de distância era só a física, não a real. Ser entregue a alguém não deveria ser um esforço, mas uma necessidade. Eu fazia esforço para não ser tão entregue, queria pular de cabeça, arriscar tudo, comprar apartamento em Santa Teresa - e não alugar.

E nunca deixei de ter planos, sonhos, paixão. Se alguma hora deixei de demonstrar isso, foi pelo bendito medo de querer demais,
de ser desproporcional.

E fui. Com medo e tudo.