Quando escrever é
revisitar,
Nem sempre somos
bem-vindos
em nossa própria
memória.
Quando abri o queijo pela manhã, lembrei-me imediatamente dele. Eu sabia que era um bom queijo, tinha a cor e consistência adequados. Sabia disso porque já fizera um igualzinho, muitos anos antes.
Fazia tanta questão que se fez assim: da onde estou, posso ouvir sua voz, sua risada sincera, sempre sincera. Sinto o toque da sua mão, áspera pela psoríase e ouço claramente ele me chamando:
– Tekebá!
Me chamava assim desde que nasci, e eu nunca soube porquê. Nunca precisei, na verdade: a razão era amor, disso eu sabia.
Se a morte for mesmo apenas uma curva na estrada, lá está ele, atrás de uma das tantas curvas da Serra da Mantiqueira. Não o vejo, mas sei que está ali (ou seria aqui ?), em algum lugar da estrada, tomando um bom vinho português e, quem sabe, ensinando mais alguém a fazer um bom queijo Minas.