segunda-feira, 29 de março de 2010

PRESENTE

Quando abri o queijo pela manhã, lembrei-me imediatamente dele. Eu sabia que era um bom queijo, tinha a cor e consistência adequados. Sabia disso porque já fizera um igualzinho, muitos anos antes.

Ferver o leite, adicionar coagulante e sal. Mexer, mexer, mexer. Eu podia me lembrar de cada passo, dos cheiros, da sensação. Quando vivenciamos com o coração, fica difícil esquecer. O Bill gostava, antes de tudo, de compartilhar experiências. Não de explicá-las, não de descrevê-las; fazia questão de fazer junto, de estar presente.

Fazia tanta questão que se fez assim: da onde estou, posso ouvir sua voz, sua risada sincera, sempre sincera. Sinto o toque da sua mão, áspera pela psoríase e ouço claramente ele me chamando:

– Tekebá!

Me chamava assim desde que nasci, e eu nunca soube porquê. Nunca precisei, na verdade: a razão era amor, disso eu sabia.

Se a morte for mesmo apenas uma curva na estrada, lá está ele, atrás de uma das tantas curvas da Serra da Mantiqueira. Não o vejo, mas sei que está ali (ou seria aqui ?), em algum lugar da estrada, tomando um bom vinho português e, quem sabe, ensinando mais alguém a fazer um bom queijo Minas.

Um comentário:

  1. demais esse texto Isa... é absolutamente incrível como certos momentos de nossa vida podem ser revividos como se estivessem acontecendo agora mesmo... e a maneira como esta experiência é desengatilhada por uma ação as vezes muito simples mais certamente inesquecível...

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